Não me peça pra aceitar o seu mal, como se fosse bem. Não me diga que sua vida é mais importante do que a minha. Não me importa onde você nasceu. Tanto faz a sua ideologia. Mas não venha criticar meu povo, que você não conhece. Não venha desvalorizar a minha raiz que é espinha do que eu sou. Do povo que me domina. Não venha derramar seu ódio em cima da minha bandeira, verde, branca, azul e amarela. Não venha me dizer que foda-se o resto do mundo inteiro. Eu não nasci assim, eu sou cria de Fernando Pessoa, de Castro Alves, de Manuel Bandeira, e pra piorar tudo de Suassuna. Eu nunca precisei de João Ubaldo Ribeiro para dizer "Viva o povo BRASILEIRO". Minha alma já nasceu vestida de ordem e progresso. O meu regresso é apenas, e será apenas, uma questão de oportunidade. Não de honestidade. Não de empatia. Minha alma está vestida de carnaval. Meu lema é sempre falar por cima da sua fala. Minha fama é ser a poesia na estrada. É subir o morro para fazer samba. É saber que minhas mazelas não dependem de meus erros, mas das oportunidades que eu não tive. Que minha gente não teve. Crescemos num país injusto. Cheio de pobres. Mas a alma é mais ativa. A força do bem é quem atiça a nossa moral. E não importa o que os outros digam. Somos mais do bem, que do mal. E para nós viva o resto do mundo também. Viva mais Simone de Beauvoir e Sartre, que o próprio Chacrinha. Viva mais Dostoievski que a burrice mesquinha do seu Patinhas. Viva o Hugo Chaves e O próprio Chaves também - nosso herói latino, tão mexicano quanto argentino ou brasileiro. Para nós, viva mais Cervantes, e sua indispensável descrição ao Português e seus filhos. E para nós, onde nas palmeiras vivem mais sabiás que em qualquer outro lugar, viva mais nossa sabedoria e, ainda assim, a falta dela. Porque é de honra que se constrói uma pátria. É de esperança que se mantém seu povo apaixonado. E é de música que se dança a mesma música, para se acompanhar. E viva o povo BRASILEIRO, com ou sem o seu Baiano Ribeiro. Com Caetano e sem progresso. Com Chico e toda a Bossa Nova. Porque eu sou mais BRASIL. Porque minha alma é mais BRASIL. Porque eu sou filha da pátria amada mãe gentil e não sou bastarda. Sou légitma. Cheia de ódio e tristeza na cabeça. Sentimentos que a gente só confessa dentro de casa. Não fora dela. Lá fora quero Pinochet achando graça. Quero Glauber fazendo Arte em calçadas Italianas. Quero Miami pagando Romero de Brito para pintar os hospitais particulares que suas criançinhas pobres nunca vão entrar. Quero Milhazes vendendo quadros milionários. Quero Fernando Henrique ganhando grana na Inglaterra, com suas mentiras memoráveis e seu idalismo clichê. Quero Collor na TV, e depois fora dela, com os caras-pintadas na janela, fazendo graça para pintar na Globo. Quero o Galvão na pista, dizendo AINDA ASSIM ALGUÉM DO BRASIL. Com força e forte progresso quero que Lutero vá para o inferno e que Salinger tenha nascido na Colômbia, tenha sido filho bastardo de um imigrante ilegal que acabou fazendo sucesso porque acreditou no sonho americano de Luter King. Quero Glória Maria no seu ouvido todo domingo ao meio-dia. E a sua raiva que parta para o raio que o parta. Após as eleições desse novembro. Porque se Deus quiser, não vai se salvar ninguém, começando pelos americanos, porque Deus É BRASILEIRO.