É claro que eu o conheço!!!!


Acho muito engraçado quando as pessoas perguntam se eu conheço Victor.


- Victor Netto Maia!!!, elas dizem. Usam apelidos que eu nem conheço – Victor Bucho!


Outras o chamam pelo apelido de infância – Gotinha! (Muitos nem sabem que ele tem esse apelido por causa do Zé Gotinha, da campanha de vacinação). A tentativa de identificar Victor é sempre a mesma, perguntar se eu o conheço ou se me lembro dele.


Meu Deus! Eu penso.


Como as pessoas se atrevem a me perguntar se eu conheço Victor.


É óbvio que eu conheço Victor. Eu o conheço tão bem que mesmo depois de 10 anos sem vê-lo ainda sou capaz de descrevê-lo aos detalhes de sua personalidade, genialidade e comicidade.


E temos muitas, muitas histórias juntos. Algumas que todo mundo conhece, outras que não contamos nem para o padre, no dia do confessionário, antes da nossa Eucaristia.


Pois é - Victor foi meu primeiro amor (platônico!!!!). Eu o amava loucamente. Eu, órfã de pai, sob os cuidados de uma mãe completamente louca, em decadência, vi em Victor a pureza do amor perfeito. Naquela época, sonhava com casamento, nós juntos para vida inteira. Mas Victor gostava mesmo das minhas amigas. Namorou todas elas.


Eu era a amiga legal, com aparelho nos dentes, óculos engraçado na cara (sim, eu sempre usei óculos!), cabelos sempre presos num rabo de cavalo, que me deixava a cara da Monalisa, e era muito, muito magra. Esse conjunto estético não era fez nenhum sucesso aos olhos do meu melhor amigo. Eu perdia feio para as amigas mais bem feitas de corpo (o que se esperar de uma menina de 12 anos!!! e com cabelos lisos??? – o meu era cacheado!). Victor passava duas, três, quatro horas comigo no telefone. Mas os beijos e as declarações ficavam para as minhas amigas. Todas elas, fosse judia, fosse católica, fosse ateia, não importava, não sobrava uma! A fidelidade da confidência sobrava para os meus ouvidos sempre, claro. Mas a emoção do sentimento nunca chegou de fato à minha glória.


O primeiro poema que eu fiz foi para Victor - ainda sei de cór. Também nunca lhe dei meu chaveiro cinza e verde da PQT para que ele pudesse passar a vida inteira me pedindo - era apenas um artifício adolescente que lhe dava motivos para falar comigo, quando não lhe sobrasse nenhum.


Eu também tinha o maior carinho em escolher o seu presente de aniversário. Passava dias pensando em quando o cinco de maio chegar. Era uma emoção ir ao edifício Luciana e esperar a hora dele me tirar para dançar uma música lenta. Eu não posso nem dizer que tirava de letra, porque eu era um pau de tão dura quando era levada por alguém embalada por uma rotação moderna que tocava Eric Clapton ou Information Society. E mesmo assim Vick me tirava pra dançar. Em um dos seus aniversários, eu lhe dei uma sinuca de brinquedo, que ele morria de ciúmes que os outros usassem ou quebrasse. Em um certo aniversário, lhe dei uma camisa de peixinhos que ele adorava, mas perdeu no mar de Itamaracá. Eu quase morri de pena quando ele me contou! Mas a vida que nos embalava naquela época foi passando e me levando para longe demais. As lembranças claro nunca se apagaram e o carinho de outrora é o mesmo de agora. Afinal, Victor foi o meu primeiro amor.


Hoje, o meu Vick é um homem formado no que sempre disse que ia ser quando crescer (veterinário), que não mudou, melhorou. Se afinou com o tempo e agora vai ser pai. Pelo menos, pelo o que sei e pelo o que ele tenta me contar por msn (a gente tem se desencontrado online, quase como se a tecnologia não quisesse ajudar esse reencontro a acontecer!) está muito animado. E tenho certeza que esse filho será tão abençoado como a vida de luz do meu amigo, cheio de sua graça infinita, que tenho certeza que esse bebê vai herdar. Por isso, me senti obrigada a escrever essa memória, esse passado - presente constante. Esse post é só um desabafo meio fora de hora e meio sem lugar, como uma oração inusitada no meio de uma tarde qualquer de verão, por meu amigo e seu filho que vai chegar. E também para dizer a todos que sim, EU CONHEÇO VICTOR, sem precisar de apelidos e sobrenomes. Ele também me conhece. Tão bem que ainda me chama pelo meu apelido de infância - Iêiê – que poucos conhecem! E ele ainda sabe porquê!
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...