Eu fiz faculdade no Rio de Janeiro. Me criei em Recife mas aprendi a ser eu, no Rio. Depois de 11 anos de ginga carioca, vim morar em Houston com meu marido. Virei uma faz tudo do meu chefe – que é o vice-presidente da américa latina de uma empresa americana – e passo o dia reclamando para mim mesma dos americanos e da vida numa cidade que foi construida para obesos (tudo aqui só se faz de carro. Não existe transporte público, não existe calçada). Eu hoje caminho muito menos do que caminhava quando Ipanema estava aos meus pés e meus amigos eram conectados via ligação local. Também danço menos, bebo menos (ops!) e escrevo menos. Uma bosta. Mas decoro a casa com garegem sales. Não preciso ser rica pra ter ipod, iphone, icar, icasa, ieu.
Enfim, mas esse post não é sobre morar em Houston e as mazelas de um país enfermo de primeiro mundo. É sobre a beleza de ser de um pais de terceiro mundo que sabe ser feliz na tristeza. Que na pobreza faz samba e que na riqueza... (bom, na riqueza viaja para fora, mas vamos esquecer isso por agora!);
Hoje estava dirigindo no trânsito e o sinal mal abriu pro cara atrás de mim socar a mão na buzina. Nos EUA isso é uma grosseria. A menos que você esteja a ponto de se acidentar, não se buzina para nada. É falta de educação. No Rio, a gente sabe, a banda toca diferente. Todo mundo buzina e todo hospital público ou privado precisa colocar placas de FAVOR NÃO BUZINAR por todo lado. Falta de eduação a paciência à parte, no trânsito caótico das cidades brasileiras também existe alma brasileira. Nossa ginga pessoal, mora nos detalhes.
A saber, enquanto eu arrancava com a minha caminhote Nissa Titan (me perdoem, mas tô no Texas) para deixar o cara atrás de mim ir tirar a mãe da forca, lembrei de uma cena que se passou comigo, no carro de um amigo meu, numa noite de verão no Rio. Estavámos na Epitássio Pessoa. Sinal fechado. Já era meio tarde, umas 11 da noite. O sinal abriu e o carro da frente não se moveu. Um casal estava se beijando e meu amigo que estava dirigindo preferiu dar ré e não interromper a cena romântica.
Sorrindo, o Fê olhou para mim e disse DEIXA OS CARAS SE BEIJAREM, NÉ? Deixa eles serem felizes.
Sacou a diferença entre alma brasileira e gringos?
Eu saquei.
Hoje.
(Está nos detalhes).
Esse post foi escrito em homenagem à escritora http://josanemary.wordpress.com/mevrouw-jane que mora na Holanda, mas a alma permance verde e amarela. Dá uma checada no blog dela. Vale a pena!
4 comentários:
Helena!
A sua crônica é deliciosa de ler do início ao fim! - Parabéns! Gostei muito! Muito!
E... Aliás, lá perto do finzinho dela, eu quase tive uma síncope! Isso mesmo: parada súbita no meu cerebinho!
Muitíssimo obrigada pela homenagem!
Meu Deus do céu!
Eu que adoro (adoooro) escrever, não acho as palavras! E a culpa é toda sua!
Acelere nesse seu carraço, meu anjo, e segue! O céu é o seu limite!
Você nasceu para escrever!
Grande beiJô!
(emudeci!)
Lele,
muito bom o texto.
Esse cara, o Fe, é um cara fantastico! :)
Beijos
FE!
Helena!
Voltei para esclarecer que o "acelere" que escrevi, foi no sentido metafórico. Em nenhum momento no de 'atravessar' a sutileza e beleza da sensibilidade que a sua crônica cita [ao ceder à passagem para um outro veículo ... à diferença de conduta entre o brasileiro e o grindo].
Okidoki?!
Tenha um ótimo final de semana.:)
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