Eu tava sentada na frente do meu computador, no meio da promoção da Jovem Pan, e a Cau tava do outro lado trabalhando, de olho em tudo que acontecia a nossa volta. Eu não a conhecia. Ela não me conhecia também não. Tínhamos uma amiga em comum que quando soube que eu iria trabalhar na rádio fez o comentário profético: acho que vc vai ficar amiga da Claudinha. Mas até aí, nada de mais né? Até eu deixar meu messenger ligado e ir ao banheiro. Esse simples ato tão banal não passou despercebido e marcou o começo daquela que seria uma grande amizade. Quando voltei para sentar na minha cadeira, uma mensagem: "aqui tem muitas pessoas bisbilhoteiras, não deixe suas coisas expostas nem por um segundo!" Adorei. Adorei o cuidado, a atenção e a pré-disposição em ser amiga. Nada contra mim. "Nada contra eu ser nova no pedaço". Para Cau, eu nunca fui uma ameaça, eu era apenas uma expectativa. Uma amizade pronta pra nascer. Depois disso, passamos a dividir o ónibus de volta para casa. Eu preferia o primeiro que passasse, mas a Cau amava o 172.
- porque tem ar e custa só um pouco mais. Além do mais, fica vazio depois que passa da praia de botafogo.
- tá bom, eu não me importo em esperar, mas pra mim, tanto faz!
Depois de dividirmos o mesmo ónibus, passamos a ter uma "night", no Letras, só nossa. A ter uma turma só nossa e a partilhar segredos só nossos. A Cau passou a ficar tão íntima que dava festa na minha casa em Ipanema - ela mesmo mandava os emails comunicando as pessoas sobre a festinha na casa da Lelê - eu adorava! Ela fazia piada sobre as minhas besteiras e tenho certeza que as adorava também. Até repetia depois, como na minha célebre favorita frase:
- " se avexe não Cau, amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada!"
Ela ria!!!! Mas era má também, vez por outra me falava umas verdades na cara, mesmo que eu já tivesse com o rosto coberto de lágrimas. Ou brigava quando eu, plena de emoção, escrevia minha resenha sobre o filme da semana, com os olhos cheios de água, na sala do décimo terceiro andar, que a gente dividia - até eu ter a minha sala com feng shui e bombom! Quando mudei para minha sala, sei que ela sentiu falta. Eu adorava quando ouvia ela bater no vidro do aquário que nos separava, me chamando: Lelê, posso ir aí? Ela corria, sentava na minha frente, comia um bombom e perguntava: - que vc acha? Eu sempre achando tantas coisas, meu Deus!!! Sempre achei coisa de mais, e sempre amei demais minha amiga, e sempre a protegi de mais. Em troca, ela odiava a bruxa tanto quanto eu!!!!! Era uma aventura viver trabalhando, trocando confidências e chorando desilusões. Aquele é um período para sempre. Em nós duas. Não só porque nos apegamos para sempre, como sabemos que o começo disso dependeu de cada pedacinho de céu que tivemos naquele tempo precioso. Depois de tudo aquilo, a aventura de ser e viver, e todas as suas curvas, foi amaciada pela grandeza da amizade que entende o sentindo da palavra PARTILHAR, COMPREENDER, AGRACIAR. Onde o vazio não tem espaço, e onde o "eu sei que você está aqui para mim" ganha vida e cor a cada confissão compartilhada, sem medo, sem máscara. Não temos vergonha de ser o que somos e de mostrar a cara, assim como a ferida no peito, aberta ou fechada. Porque sabemos que somos AMIGAS, (com todas as falhas que essa palavra pode trazer e que só engrandece o sentindo de ser).
Amiga, obrigada por meu presente de aniversário MARAVILHOSO. Eu o estou devorando, já ando às voltas com último capítulo!
Lelê